segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Ícones Brasileiros: Willys Interlagos


    A história do Willys Interlagos começou na França da década de 50. Mais precisamente com Jean Rédélé, um piloto francês filho de um dono de concessionária Renault e que corria para a mesma marca. A sua prova favorita era a Copa dos Alpes, mas era difícil de conseguir boas posições com carros como o Renault 4 cv. Então, ele projetou um cupê pequeno, 2+2, carroceria de alumínio, mecânica do Renault 4 cv e um motor de 845 cm³ (0.845 l) de 40 cv brutos (cerca de 32 cv líquidos, nos padrões atuais). Com motor traseiro, logo fez sucesso nas corridas. Venceu as Mille Miglia, outro rali tão disputado quanto a Copa dos Alpes, em 1952 e 1954, e a Copa dos Alpes de 1953. Devido aos inúmeros pedidos de carros iguais aos dele, em 1954 ele fundou a Alpine (mais precisamente, Société des Automobiles Alpine). Em 1955, ele lançava o Alpine A106 (foto), com pequenas diferenças em relação ao seu carro, como carroceria de plástico com fibra de vidro e chassi tubular monobloco, com direito a uma versão conversível.


    A Renault gostou do carro e começou a apoiar a Alpine. A marca então modificou o desenho, transformando em berlineta, e colocou o motor do Dauphine para lançar o Alpine A108, em 1958. Como o Dauphine era fabricado no Brasil pela Willys, e sabendo que esportivos são boas formas de propaganda, a Willys decide lançar o A108 aqui no Brasil. O carro é lançado aqui quase idêntico ao A108. Uma das diferenças foi o nome, Interlagos, sugerido por Mauro Salles, publicitário que amava o automobilismo. O Willys Interlagos foi lançado no Salão do Automóvel de 1961, nas versões cupê, berlinetta e conversível.


    As vendas começaram em 1962, sob encomenda. O motor era um quatro cilindros em linha refrigerado a água, mas era oferecido em 3 versões diferentes: de 845, 904 e 998 cm³. O 845 produzia 32 cv no cupê e no conversível, e 42 cv na berlineta (valores líquidos). O 904, de 56 cv, estava disponível para todas as versões, enquanto o 998, de 70 cv, era exclusivo da berlineta. Esse último foi o primeiro motor a exigir o uso da gasolina azul, então a com maior octanagem disponível. Os motores eram os mesmos, apenas os cilindros e os pistões eram diferentes. Apesar da baixa potência, eles eram leves: 535 kg na berlineta e 570 nas demais versões. Com isso, eram relativamente rápidos para a época: na verão de 70 cv, fazia de 0 a 100 em 14,1 s e chegava aos 160 km/h, de acordo com testes da época. Chegava a superar muitos carros, até mesmo estrangeiros.


    Sem novidades, a produção encerrou em 1966, com apenas 822 unidades produzidas. Mas a história do Willys Interlagos não aconteceu apenas nas ruas: como o próprio nome diz, ele fez história também nas pistas.


    Dentre os muitos pilotos brasileiros famosos da época (aliás, boa época para o automobilismo brasileiro) estava Christian Heins, que corria principalmente na Europa, pela Alpine. Com várias equipes de concorrentes da Willys já correndo no Brasil, Heins conseguiu que a Willys montasse a sua equipe. Um dos carros escolhidos foi o Interlagos berlineta, que logo que foi lançado fora homologado como carro de turismo. Heins assumiu a equipe (quando morreu em 1963 nas 24 Horas de Le Mans, outro notável piloto, Luiz Antonio Greco, assumiu o comando), que tinha como principal objetivo bater os DKW. Conseguiu: já em 1962, ganhou várias corridas, com seus carros amarelos com uma faixa azul que percorria todo o carro (na foto).


    O carro costumava ser superior em todo tipo de corrida, de rua, nas pistas, de curta ou longa duração, seja contra nacionais ou carros importados da época. Mas o mérito não era totalmente dos carros, pois grandes pilotos fizeram parte da equipe: Luis Pereira Bueno, Wilson Fittipaldi Júnior, Bird Clemente, Emerson Fittipaldi, José Carlos Pace, Carol Figueiredo e Francisco Lameirão, só para citar alguns. (Dentro da equipe, havia uma "rivalidade" entre Bird Clemente e Luiz Pereira Bueno: Bird Clemente costumava fazer as curvas de lado, enquanto Luiz pilotava de um jeito mais suave, fazendo parecer que não estava numa corrida. Um rivalizava com o outro dizendo que o seu jeito era o jeito certo de pilotar o Interlagos, mas como um vivia abaixando o tempo do outro, só conseguiram provar que o Interlagos era um bom carro) Em 1963 e 1964, a Willys conseguiu suas principais vitórias com os Interlagos: em 1963, as Mil Milhas de Porto Alegre, e, em 1964, o  GP do Estado da Guanabara, a 500 Quilômetros de Interlagos e as 200 Milhas de Montevidéu (Uruguai). Uma curiosidade: o nome de um dos pilotos do Interlagos, José Carlos Pace, acabou virando o nome do circuito de Interlagos, em 1985. Ele morreu em um acidente aéreo em 1977.


    Entre 1965 e 1966, a equipe foi perdendo alguns pilotos, até que em 1966 sobrou apenas Luis Pereira Bueno, Carol Figueiredo, Luis Fernando Terra Smith e Bird Clemente. A equipe da Willys continuou com vitórias até a Ford comprar a Willys, em 1967, quando a equipe passou a ser chamada de Ford-Willys. Não conseguiram tantas vitórias e reconhecimento quanto eram apenas Willys, com seus pequenos e ágeis Interlagos. 




    Seja nas ruas ou nas pistas, o Interlagos foi um carro importante para os brasileiros, em uma época em que o automobilismo era valorizado por aqui e tínhamos vários grandes pilotos e as fábricas se importavam em fazer carros esportivos, com alma. Participou de corridas com lendas do automobilismo, e fez parte do sonho de muitas crianças e adolescentes da época. Com certeza, um carro que merece o título de Ícone Brasileiro.
    Até a próxima!



Nota: Eu achei essa foto, que, pelo texto, é uma reestilização ocorrida em seu último ano de fabricação. Não achei mais nada sobre isso, mas se alguém souber de alguma coisa, preferencialmente com alguma fonte, deixe nos comentários, por favor.

Fontes:

Texto:
Car and Driver, Edição n° 25, págs. 108 a 113 - Best Cars Web Site - Jalopnik - Brazil Yellow Pages

Imagens:
Renault Clube Portugal -Web Motors/ MSN Notícia - Auto Esporte - Flávio Gomes (IG) - AQIP - Usado Fácil - Jalopnik

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