terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Ícones Brasileiros: Hofstetter
Houve um tempo no Brasil em que importar carros era proibido (coisa que só mudou na década de 90). Nessa época de ditadura militar, o único jeito de conseguir carros mais nervosos era comprar algum das 4 grandes marcas de então: Fiat, Ford, Chevrolet e VW. Ou poderia escolher um fora-de-série. Houveram muitos, e geralmente utilizavam carrocerias de fibra de vidro, peças de outros nacionais e visual inspirado em carros estrangeiros, principalmente europeus.
Um dos mais impressionantes foi o Hofstetter. Seu visual foi inspirado no conceito Bertona Carabo (conceito de 1968, pioneiro no uso de portas tipo tesoura e que daria origem a carros como Lamborghini Countach e Maserati Boomerang). Seu idealizador, Mario Richard Hofstetter, era filho de um milionário suíço que vivia no Brasil, e tinha o sonho de construir o carro desde garoto. O desenho estava definido desde 1973, de acordo com Mario. Ele passou 2 anos construindo o carro, de 1982 a 1984, ano em que foi exposto no Salão do Automóvel de São Paulo.
Apesar de o conceito Carabo ter portas do tipo tesoura, o Hofstetter tinha portas do tipo "asa-de-gaivota", como os Mercedes-Benz 300 SL Gullwing e o atual SLS AMG. Os retrovisores ficavam nas portas, que não tinham janelas (uma corrediça foi adotada depois). O visual era cheio de linhas retas, pois os primeiros moldes do carro foram feitos com tábuas de madeira, compradas com a venda de um kart de Mario. A carroceria era feita de um tipo de plástico reforçado com fibra de vidro.
O interior era relativamente luxuoso. Bancos esportivos, ar-condicionado, toca-fitas, painel digital completo e volante ovalado com a parte de baixo recortada em algumas versões. Não havia muito espaço para as malas dos dois passageiros: apenas um pequeno espaço atrás do banco e o pequeno porta-malas, ocupado em parte pelo estepe.
No início do projeto, a base mecânica foi doada por um monoposto de Fórmula 2, um câmbio Hewland e um motor Hart, com chassi de um carro da divisão 4. Mas o motor não era viável para as ruas, já que não trabalhava em rotações abaixo de 12000 rpm... Então, Mario desenvolveu seu próprio chassi, do tipo espinha dorsal, e colocou um motor 1.8, do Gol GT, com turbo Garret, totalizando 140 cv e 21 kgfm, bom para a época. E o desempenho também: num teste da Quatro Rodas de setembro de 1986, o Hofstetter quase alcançou os 200 km/h e fez de 0 a 100 km/h em 9,3 s.
As peças do Hofstetter vinham de vários nacionais da época: motor e câmbio (inicialmente de 4 marchas, depois de 5) da VW, suspensão dianteira e sistema de direção do Chevette, suspensão traseira era a do Passat, só que era a dianteira montada de forma invertida, palheta do limpador de parabrisas de caminhão Mercedes-Benz, e outras peças de Opala, Fiat 147, Monza, Brasília, Gol, Corcel e até do Ford F-4000 estavam no Hofstetter. Para o alívio dos donos, tudo estava especificado no manual. Os freios eram a disco nas quatro rodas, mas sem nenhuma assistência, e os pneus 225/55 VR 14 eram os mesmos pneus de chuva dos Stock Car da época.
No Salão de 1986, mesmo ano que iniciou-se a sua comercialização, ele ganhava a opção de câmbio automático. Dois anos depois, ganhou o mesmo 2.0 do Santana, mas com turbo e intercooler, para poder alcançar os 210 cv (com velocidade máxima prometida de 236 km/h), e também ganhou o imenso aerofólio das fotos. Em 1990, ganhava spoiler dianteiro, saias laterais, novos faróis e assoalho 2 cm mais baixo. Embora a expectativa de Mário Hofstetter fosse fabricar 30 unidades por ano, apenas 18 unidades foram comercializadas, entre 1986 e 1991. A 17ª unidade (na foto, feita pelo Renato Bellote) pertence ao próprio Mario Hofstetter, mas um pouco modificada, equipada com um motor de estimados 300 cv brutos. Foi mais uma vítima da abertura das importações, e também seu preço não ajudava. Custava quase quatro vezes mais que um Escort XR3, um dos mais desejados esportivos nacionais na época.
Realmente o Hofstetter foi e ainda é um carro impressionante, que chama muita atenção por onde passa. Aposto que, se vocês apenas vissem as fotos e não soubessem nada sobre o Hofstetter, duvido que diriam que é brasileiro. Mas é. Um dos mais impressionantes carros nacionais. Desde a abertura das importações, tivemos pouquíssimas marcas nacionais. E, a maioria das marcas nacionais que existe, é de jipes. Hoje em dia, para ter um esportivo, apenas sendo rico ou preparando seu carro. É, até que aqueles tempos sem carros importados não eram tão ruins assim...
Até a próxima!
Fontes
Texto:
Best Cars Web Site - Quatro Rodas - Jalopnik - Garagem do Bellote
Imagens:
Jalopnik - Garagem do Bellote - Jornal do Carro - Museu Anhanguera do Automóvel
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