segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
Ícones Brasileiros: Santa Matilde
No começo da década de 70, o engenheiro Humberto Pimentel Duarte, presidente da Companhia Industrial Santa Matilde (que produzia vagões e equipamentos agrícolas) e amante de carros esporte, possuía um Porsche Targa 911S. Ele sabia que logo a importação seria proibida, o que dificultaria a manutenção de seu Porsche. Decidiu comprar outro carro para o seu uso diário, e escolheu o Puma GTB. Há duas versões da história a partir daqui: a primeira diz que, após receber o carro, e vendo seus defeitos, mais a insistência da filha, Ana Lídia, de 19 anos, que queria construir seu carro, decidiu fabricar seu próprio carro pela Santa Matilde. A segunda versão diz que a fila de espera para receber o Puma foi muito grande, o que o levou à fazer seu próprio carro. Seja lá o motivo, ele decidiu construir seu próprio carro. Ele e a sua filha então começaram a projetar o carro, tendo referência vários carros esportivos. Logo uma equipe foi formada na Santa Matilde. Em 1977 um protótipo ficou pronto, mas estava péssimo, de acordo com o próprio Humberto. O carro foi refeito e lançado em 1978, e ganhou o mesmo nome da fábrica: Santa Matilde. Na foto, o Santa Matilde número 001.
Sua carroceria, como a maioria dos esportivos de então, era feita de fibra-de-vidro. Na dianteira, dois pares de faróis redondos, com os piscas triangulares nas extremidades. O capô era longo, e a traseira curta. Era um hatch 2+2 (espaço para dois adultos na frente e duas crianças atrás) com o mesmo motor 4.1 seis-cilindros do Opala, com 127 cv e 29 kgfm, com tração traseira. Ficou conhecido como o carro mais caro do mercado brasileiro, mas era bem luxuoso pra época: freios a disco nas quatro rodas, interior revestido em couro, ar-condicionado, vidros elétricos, rodas de liga leve, abertura interna do porta-malas, rádio com toca-fitas (uma inovação era a antena embutida entre o teto e o revestimento interno, evitando possíveis casos de vandalismo) e desembaçador elétrico, tudo de série. Naquele ano de 1978, o Santa Matilde foi mostrado no Salão do Automóvel e logo fez sucesso, e logo virou objeto de desejo entre as pessoas. Apesar da grande fila de espera, vendeu 88 unidades já naquele ano.
Mesmo assim, o carro ainda tinha alguns defeitos, que eram corrigidos ao longo dos anos. Por isso, é fácil achar carros do mesmo ano diferentes entre si. No ano seguinte, onde 150 unidades foram vendidas, o carro passou a oferecer direção hidráulica. Em 1980, algumas poucas mudanças externas, e novo sistema de ar-condicionado, embutido ao painel, e dois novos motores 2.5 a álcool, também do Opala: ambos quatro cilindros, mas uma das opções possuía turbocompressor. O desempenho da 4.1 era razoável, mas perdia pro Opala, pois era mais pesado: 180 km/h de máxima e 0 a 100 em 12 s, com câmbio manual. Com o automático, a velocidade máxima passava a 170 km/h, e o 0 a 100 era feito em 14 s. Em 1981, o carro ganhou novas rodas, e vendeu 57 exemplares. Uma curiosidade: ainda naquele ano, Steve Arntz, um milionário americano, viu o Santa Matilde em uma exposição de carros na França. Encantado com o carro, trouxe um Ford Cobra para o Brasil, pela Argentina, e fez na Santa Matilde uma das melhores réplicas do Cobra no mundo.
Em 1982, mais alterações na carroceria. Com apenas 48 unidades vendidas naquele ano, seu Humberto não estava nada feliz. Então, em 1983, termina a produção dos hatches e também tira os motores quatro cilindros de linha, pois não tiveram boas vendas, e começa a produção do Santa Matilde cupê, quase um 3 volumes. Ganhou nova traseira, algumas outras poucas alterações na carroceria, interior com painel e console mais modernos, e o tanque de combustível e o porta-malas aumentaram, esse último tanto pela reestilização da traseira como pelas novas posições do estepe e da bateria (que ficava lá na parte de trás, e passou para o cofre do motor). Neste ano, 44 unidades foram vendidas.
Em 1984, finalmente o Santa Matilde ganhava uma versão conversível. As diferenças em relação à versão cupê era a estrutura mais rígida, o para-brisas mais inclinado e duas capotas de série, uma de lona, guardada atrás dos bancos traseiros, e outra feita de fibra de vidro, para o inverno. Isso foi feito para que o motorista não fosse surpreendido pela chuva, se saísse sem a capota rígida. Entre cupês e conversíveis, foram 62 unidades fabricadas em 1984.
Em 1985, o painel, console e painéis das portas foram remodelados. Com isso, foram 81 unidades vendidas, números que aumentariam substancialmente no ano seguinte: em 1986, depois de quase uma década aperfeiçoando seu carro, seu Humberto conseguiu que a fábrica vendesse 207 unidades do Santa Matilde, um recorde de vendas, sendo que quase 1/4 desse valor foram de conversíveis. Já havia se tornado um ícone no mercado brasileiro.
Mais uma vez, entre 1986 e 1987, o carro recebia mudanças: no cupê, os pares de faróis redondos são substituídos pelos faróis retangulares do Volkswagen Santana (no conversível, os faróis duplos continuaram), a carroceria recebia leves mudanças para atualizar o desenho do carro e a estrutura do carro foi melhorada. Ainda naquele ano, começaram o trabalho para a criação de um sedã executivo de luxo, de 4 portas, com vendas focadas para o governo. O projeto de remodelar o conversível também estava bem avançado.
As coisas iam bem até que, entre 1987 e 1988, houve um problema, na área que produzia vagões de trens, com o sindicato dos metalúrgicos. Isso afetou todas as outras áreas, e a produção do Santa Matilde em larga escala é interrompida. O comando da fábrica passa para membros do sindicato, tirando seu Humberto da presidência. Como o sindicato não se interessava pela área do Santa Matilde, eles destruíram vários documentos importantes em relação à história do carro. Em 1988, poucos funcionários passaram a fabricar o carro, totalizando 6 naquele ano, sendo um conversível. Os projetos do sedã executivo e da remodelação do conversível são cancelados.
A produção continuou bem pequena até 1995, e apenas uma unidade fabricada em 1997 (foto). Essa última unidade utilizou o motor 3.0 do Omega, e teve toda a produção supervisionada pelo seu dono. No total, foram 937 unidades, sendo 490 hatches, 371 cupês e 76 conversíveis, embora não se saiba quantos ainda existem hoje. A Santa Matilde continua ainda hoje no ramo ferroviário e ainda produz algumas peças do Santa Matilde, sob encomenda.
Apesar de ser (bem) caro, o Santa Matilde teve boas vendas e se tornou sonho de consumo de muitos brasileiros. Foi feito para ser o melhor esportivo brasileiro, e teve como referência vários esportivos da época. Um Ícone Brasileiro.
Fontes:
Texto:
Quatro Rodas - Santa Matilde Clube - Best Cars Web Site
Imagens:
Confraria do Puma - Santa Matilde Clube
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